segunda-feira, 8 de março de 2010





Muitos brasileiros hoje questionam se ainda é mesmo preciso uma data para se comemorar o simples fato de ser do sexo feminino.

A utilidade real do 8 de Março, Dia da Mulher, tem sido questionada, diante de tantas datas comemorativas cujo apelo comercial se sobrepõe ao espírito de celebração da data em si. Questionam se essa não seria apenas mais uma data para impulsionar vendas comerciais e argumentam que a mulher já ostenta números que reconhecem sua relevância na sociedade. Dizem que “hoje a mulher é quem está no comando”.

Realmente, nesse sentido, temos uma expressividade legitimada e reconhecida em alguns setores. É notória a reputação das mulheres de ter maior concentração na solução concreta dos problemas, sem exibição de poder. A mulher, em geral, não desperdiça esforços com o exercício da vaidade de cargos.

No entanto, quase 90% das brasileiras responsáveis pelo sustento da família moram em periferias e favelas, sem estrutura básica que atenda as suas necessidades com serviços como creche, mercados e lavanderias comunitárias, de acordo com dados coletados em 2003 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Além disso, no poder público, a participação feminina é insignificante. Ainda segundo a ONU, as mulheres ocupam, em média, apenas 20% dos cargos públicos de comando na maioria dos países. Isso indica a presença da opressão sofrida pelas mulheres não somente nas classes inferiores, mas também nas mais abastadas. Somos poucas no Legislativo, no Executivo e, menos ainda, no Poder Judiciário. O mesmo acontece na liderança do mundo corporativo.

Essa sujeição social da mulher tem raízes profundas que ainda se sustentam na ideologia da imposição do domínio do masculino sobre o feminino que existe há cerca de cinco mil anos, cuja história se confunde com a própria história da civilização humana. Sempre houve discriminação contra a mulher.
Ambientes culturais diversos ainda fazem muitos analisar a mulher de forma preconceituosa, não lhes dando voz nem ação.

A discriminação e o preconceito fomentam a sujeição física e mental da mulher, restringindo a sua sexualidade e cerceando a sua liberdade. Faz habitar no inconsciente coletivo um conceito de que a mulher é menos capaz que o homem, o que não é verdade.

Nesse sentido, não basta afirmar que homens e mulheres são iguais perante a lei. Urge fixar em que termos essa igualdade é vivida.
Toda luta contra preconceitos e pela necessidade de afirmação da mulher na sociedade brasileira devemos nos engajar, a sim de que o Brasil possa ilustrar sua imagem com a tintura da igualdade, da fraternidade e da solidariedade entre gêneros e raças.

Tenho grande esperança de que, com a inserção plena da mulher em todas as áreas, os valores culturais, os padrões comportamentais, o campo político e tantas outras esferas serão alterados, adotando-se um estilo de liderança e encaminhamento das questões mais interessante, mais criativo e mais sensível, sedimentando-se, assim, a condução de uma nova geração.

Parabéns a todos que não alimentam preconceitos!



Márcia Regina Machado Melaré

Vice-Presidente da OAB-SP
 
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